O universo é de Asimov onde já nada nos comove,
tenro vicio que absorve - magra mão que pede o corte.
Sob um novo sol: supera o Deus que nos engole.
Dedos são de um sujo solo - carregam Pietà ao colo.
Morde o anzol - aquilo que emanas é escória,
é só pecado essa paixão pela fama, pela glória.
Se eu abro o chão, cravo os dentes pela história,
vim para obrigar que um deus tenha o seu Memento Mori.
Pelo dinheiro? Tu, Caronte, tão primeiro,
para fingir toda a diferença entre o barqueiro e o banqueiro.
Brando, gladeio - cada verso sai certeiro.
Vim para incendiar os Campos - tão inverso a Alberto Caeiro.
Sangue é fresco, sinto o cheiro. Pinto um fresco com o mesmo.
Nunca deixo um copo a meio - pronto para cuspir veneno.
Hubris pelo reino, rego-o de álcool para o incêndio,
um rei só escuta o teu paleio para ter saudades do silêncio.
(Ângela Polícia)
O telhado vai abaixo e o chão, a seguir, também,
O mundo arde num instante e tu, a dormir, também.
O telhado vai abaixo e o chão, a seguir, também,
O mundo arde num instante e tu, a dormir, também.
(João Tamura)
Tu és doença e eu refém do nosso beijo,
numa cabeça com mais portas do que as Torres do Aleixo.
Mesmo que todas tuas rosas fiquem podres, não me queixo:
são belas, mesmo mortas, para quem vive sem direitos.
A desenterrar galáxias do meu externo podre ou são,
a vomitar cem mágoas a cada verso, som, canção.
Ou para espetar em estacas quem só espera pelo refrão,
versos do que as guerras são, de um universo em combustão.
Há mares que batem sob a lua sobre a tua pele de sal,
sou Spell, Duelo Mental - a vida é para escrever o mal.
Enquanto Chronos torna a vida visceral.
Nós: mantas de mil retalhos que ele vai cozendo sem dedal.
Se o telhado vai abaixo e o chão a seguir também,
o corpo come o escuro cada vez que a noite vem.
Pronto para queimar o luxo e todo o ouro que a corte tem.
Se vires Mara onde eu passei: espero que ele nos espere bem.
(Ângela Polícia)
Quando a noite cai, os vampiros saem, não há forma de fugir.
Mortos-vivos trazem uma fome que arde e não para de rugir.
Anda atrás de sangue, esse corpo exangue, que se arrasta atrás de ti.
Perdido, não sabes, que fogo trazes, extasiado a dormir.
O telhado vai abaixo e o chão, a seguir, também,
O mundo arde num instante e tu, a dormir, também.
O telhado vai abaixo e o chão, a seguir, também,
O mundo arde num instante e tu, a dormir, também.
João Tamura é músico, poeta e fotógrafo. Nascido em Lisboa, nos anos 90, começou a fazer música cedo, aos 14 anos. Música, essa, que dá vida e roupagem aos poemas que escreve.