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I _ INITIUM
03:22
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I _ INITIUM
se eu subo para o palco eu não peço barulho... eu tinha-o de mais em casa.
aquilo que eu escrevo é aquilo que me rasga, em cada piano do puto das Caldas.
aos poucos arranha-se a alma, vivemos a vida com calma,
terramotos e facas, armas, palavras, garras e marcas ou rimas e balas…
Lisboa até que algo me leve, Torino nos tempos de neve,
coisas num tempo tão breve... será, amor, que a vida nos serve?
juras de voltar a tempo, volta para trás: para a estrada…
sabor a pavor - eu sei-o de cor. e se estas paredes falassem…
tapavas ouvidos. quantos comprimidos e nada.
a avó está doente, o pai no trabalho, a mãe já não sabe o que é estar acordada.
é madrugada e há fumo no quarto. eu não vejo rumo e estou farto.
a voz está tão rouca, o pulso tão gasto, de volta de outro concerto não pago…
100 mãos no ar - não quero saber se há mãos no ar.
quero que ouças aquilo que eu falo, escrever aquilo que nos tira o ar
100 mãos no ar - não quero saber se há mãos no ar.
gritar e matar, besta ao luar, selvagem de mais para o olhar...
mostra-se a carne, apuro o olfacto, treina-se o tacto para coisas maiores.
de volta à cidade, de volta ao andar, de voltas às arenas do fim de nós.
silêncio é suspenso no ar, demência imersa na carne,
imensa maldade… deixa o tambor troar, até o tambor troar...
se eu subo para o palco eu não peço barulho... eu tinha-o de mais em casa.
aquilo que eu escrevo é aquilo que me rasga, em cada piano do puto das Caldas.
aos poucos arranha-se a alma… aos poucos arranha-se a alma…
se eu subo para o palco eu não peço barulho... eu tinha-o de mais em casa.
aquilo que eu escrevo é aquilo que me rasga, em cada piano do puto das Caldas…
até o tambor troar, até o tambor troar... até o tambor troar, até o tambor troar...
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2. |
II _ SALTO
03:44
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II _ SALTO
ela voa para Torino e esquece tudo aquilo que fomos.
decoro aquele caminho como decorei o trono.
onde tu caías quando morrias de sono... e eu não percebo como
o tempo não te afoga, a neve não te toca, e o carro não pega ao lado do Lago Como.
o que é nosso é feito de ouro.
estamos sós como lobos na cidade do Toro
uma vida só é pouco e eu levo-a onde eu cresci e onde é fácil aprender
que um homem não é a pele que o cobre, nem a carne que o reveste, mas o medo que ele tem ou terá de morrer.
quando o mar chegar e eu não souber nadar, acredita mãe, eu salto!
quando o céu cair, quando todo o chão ruir, tu tem calma mãe, eu salto!
quando ela não descer, quando tudo não crescer, olha para mim, eu salto!
quando o fim vier, eu salto... quando o fim vier, eu salto!
e o que é para ti a fala? o que é para ti o medo?
o que é para ti a casa sem ela na sala? o que é para ti o tempo?
o que é para ti o frio? a vida na cidade tem-te mostrado o vazio,
cada vez que ela vai, arrepio. e tu preso à realidade por um fio.
as veias da mãos, eu sei-as e são cheias em vão.
será que o mundo se vai embora e os barcos se afogam quando as alcateias vão?
as coisas são tuas, as minhas são tuas, vivemos às escuras.
planícies em Tulsa onde rasgavas o céu com as unhas..
montanhas da culpa, aprender a ternura com coisas mais puras
imóveis esculturas, o peito que educas caindo de alturas.
ser aquilo que usas, os traços de Goya com os quais te torturas.
e que caia Tróia, os mares e os rios e as ruas...
quando o mar chegar e eu não souber nadar, acredita mãe, eu salto!
quando o céu cair, quando todo o chão ruir, tu tem calma mãe, eu salto!
quando ela não descer, quando tudo não crescer, olha para mim, eu salto!
quando o fim vier, eu salto... quando o fim vier, eu salto!
quando o mar chegar e eu não souber nadar, acredita mãe, eu salto!
quando o céu cair, quando todo o chão ruir, tu tem calma mãe, eu salto!
quando ela não descer, quando tudo não crescer, olha para mim, eu salto!
quando o fim vier, eu salto... quando o fim vier, eu salto!
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3. |
III _ ILUSÃO
03:27
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III _ ILUSÃO
és estátuas de pedra a arder... no fundo com fumo vais ver
que não és tu que ficas menor, é a lua que está a crescer.
as lutas são contra fantasmas, são contra nós próprios.
as vidas que guardavas nas salas onde fumavas o ópio
fogem para longe. há coisas que eu nunca sei ver,
coisas que eu não vou aprender… um homem nada tem a temer!
e o fumo foge - mas eu não. sábios são os lábios que não dão
beijos nas costas da mão a reis que nos negam o pão,
são ilusão...
Ilusão… quantos corpos não o são?
há escuro entre nós. faz muros entre nós.
eu sei que fumas após dançares com a morte.
tu és onde o tempo não corre, as cidades acabam e um homem se destrói.
as lutas são tuas, as quedas são nossas quando levas a noite.
animal e sou cego. nas margens do Tejo,
no silêncio dos gestos… eu, tu e o Mondego
cada vez que o sol cresce, a tua espera é diferente quando fumas cigarros.
tu matas os deuses, levas os barcos, o tempo, o espaço...
Ilusão… quantos corpos não o são?
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4. |
IV _ FUGA
02:45
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IV _ FUGA
chega a casa tão cansada quando à noite…
ser mãe é duro e dura pouco.
os euros são tão nada
e ela conta-os com a mão dentro do bolso.
só se despe após as oito,
aquilo que é do jantar é do almoço.
se a vida fosse um pouco mais doce… fugia do fosso
até que sente os pontapés dentro do corpo
é quando chega tão cansada e vê:
aquilo que toca não é aquilo que quer.
o que há para lá desta parede
não é para se sonhar sequer
x2
e ela sabe que ele não é homem a sério:
escuta-o bêbedo pelo prédio.
se o ordenado já nem para eles serve…
como servirá para gémeos?
e se um ficar doente?
põe a mão sobre o ventre, jura estar ali para sempre
para eles. por isso diz adeus à casa,
com dois filhos no corpo e uma mão na mala.
pois lá fora há um mundo novo.
pois lá fora há um mundo nosso.
e nós vamos descobri-lo todo.
e ninguém dirá que eu não posso!
x2
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5. |
V _ SPATIUM
02:31
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V _ SPATIUM
se a casa cair mas eu não,
sorrimos com um copo na mão.
de novo de volta ao colchão,
aquilo que respira o pulmão…
se a casa cair mas eu não,
sorrimos com um copo na mão.
de novo de volta ao colchão,
aquilo que respira o pulmão és tu…
…
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6. |
VI _ CAPUCHOS XXI
03:04
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VI _ CAPUCHOS XXI
eu quero que a doença saia toda de ti - das veias, do peito, das pernas.
e que te esvazie como deixaste aqui as salas, as camas, as mesas.
porque as radiografias têm negro, e elas na cozinha têm medo.
e eu não ouço o que elas dizem em segredo, mas eu sei que o adivinho com os dedos...
cada vez que eles te tocam por dentro dos cabelos - e eu não quero sabê-lo, e eu não quero dizê-lo.
é o tempo que te corta os membros: o que de ti resta é só dele.
o devaneio dos animais - somos uns. avó e tu confessa: rezas a que deus?
pois há lugares que adoecem como tu... tanto o quarto, como o céu, como eu.
tantos panos a cair, onde é que te escondes?
nas batidas do sentir… morres quando foges.
enquanto tu dormias eu caí outra vez. o corpo habitua-se sempre à falta.
era quando percorrias os meus dedos - hoje dou-me todo à ressaca.
e é saber todos os teus lábios de cor... incendiamos as coroas destes reis à sua frente.
e que as deusas chorem sobre nós ao lutarmos contra a carne que nos obriga a morrer.
e as coisas que na vida aprendemos levam o pouco de humano que nós temos.
e cresce a importância dos gestos - do sexo e do beijo e do resto.
e à medida que o tempo acontece eu entendo o teu cansaço e segredo.
cristalina em demasia para o chão. delicada em excesso para o tempo.
tantos panos a cair, onde é que te escondes?
nas batidas do sentir… morres quando foges.
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7. |
VII _ QUEDA (com HAROLD)
04:24
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VII _ QUEDA
(HAROLD)
noites belas, nelas vejo-te sempre…
vejo-te à frente mesmo sem tu estares presente.
corpo é carente entre corpos, música e charros,
entre o barulho das luzes, gritos e carros.
meço descompassadamente,
eu já não vejo o tempo – drogas mudam a minha mente.
a cama tornou-se uma prisão,
a solidão e a compaixão tiram-me o chão constantemente
e eu morro…
quem vem primeiro?
deixa-me cair...
quando o tempo se acabar leva as coisas com que construíste o mundo,
com que destruíste tudo.
voltamos para Osaka, o táxi que nos leva a casa,
enquanto o trânsito te vai cortando as falas...
porque o barulho dos carros, o pulsar da terra,
o gritar dos pássaros, o peito, as serras...
aquilo que no peito encerras
é somente teu deveras, somos a casa de feras.
o sol põe-se a cada enterro.
incendeias o feno.
as manhãs são ouro negro
e os cavalos que nelas correm, morrem mas nunca os vemos.
é o desconstruir da noite que me ensinas,
quando o teu corpo está por cima.
és circo de animais sem nome,
tu que aprisionas o sol e que o estilhaças no meu corpo.
quem vem primeiro?
deixa-me cair...
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João Tamura Lisbon, Portugal
João Tamura é músico, poeta e fotógrafo. Nascido em Lisboa, nos anos 90, começou a fazer música cedo, aos 14 anos. Música, essa, que dá vida e roupagem aos poemas que escreve.
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