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Singapura - Acto I

by João Tamura

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1.
Terra 03:31
isto é o plano para quem ama com duas bocas atadas, ou os anos de quem vive com as mãos cheias de nada, isto é auge da caçada, as curvas das palavras, e nós com as armas que o peito carrega em vão. singela solidão onde se escreve, onde se bebe em demasia tudo aquilo que o corpo pede ao chão. o que o eterno pode: uma foto ou mais um foco. o corpo não é barro - a musa não se molda ao toque. e escrever aquilo que importa: o pomo da discórdia. há quem as drogas ou as notas tornem a vida vitória... Deusa, as trevas voltam, ou teus lábios galopam, os joelhos com que rezas são os teus Cavalos de Tróia. e no fundo do mundo o fracasso é ver o que o cume nos faz, há fumo, o meu rumo: o teu braço. no fundo nem sou nem metade. o amor vem tarde... para nos salvar? quem sabe... como dizer o teu nome se ele no corpo já não cabe? e isto somos nós: meio humanos ou inteiros? cada vez mais cansados destas odes por dinheiro. isto é a morte pelo beijo, fama ou pela crença, e vê que a solidão se adensa quando acaba a internet. na espera que ela chegue com as poucas coisas belas, que afogue o azul que tem o tamanho da sede. e nós no meio do medo com canções que o dia trouxe, (que) poetizam o dinheiro como se uma musa fosse. quanto peso a mais no bolso? exaustos para ter mais, incautos animais e a quanta maldade posso? e nós feitos para ninguém. qual o porquê do homem que vive para o que não tem? quanta solidão devora? não morremos como os deuses morrem, mas sim sozinhos. a quantas discussões sobre o que (nos) falta permitimos? e nós a ser eternos, com poemas, gritos, Eros. a arte arde menos do que a vida que nós temos.
2.
07/Março/93 04:58
nasci no ano errado, na parte errada da cidade, a avó e a doença dela são gritos no quarto ao lado. e eu quero dormir, mas nestas carcaças não cabem pássaros, é a fugir ou a tremer que as mãos dela agarram maços. ... e ela sopra a morte aos poucos, naquele fumo branco que invade o mundo e me deixa rouco. os gestos são dos loucos. e os lábios seda gasta. o pouco na mesa não basta: a pobreza que chega e te afasta, e te mata... e há pontes sobre Tejo, pontos do meu medo, infinitos como nós e como o tempo. e eu nasci no ano errado, 7 de Março e o tempo constrói o inventário das poucas coisas que temos. à noite no Saldanha regressados do cinema, nós esquecemos por inteiro todas as coisas que lemos. uma dança que só flui entre dois corpos tão finitos, num amor que se dilui entre o grotesco e o bonito. e há monstros que nós comem o coração e interiores. os corpos são um do outro: decoração de interiores. pontes sobre o Drina, pontes sobre o Tamisa, solidão em casas tão cheias que crias. e sem saber o que se passa lá fora na terra, sei que aquilo que vem do nada ao nada regressa. e isso basta. as massas são tão loucas e eu sei, então obrigo-me a escrever mesmo sem me ler ninguém. e ela jura tanto, tanto, mas tanto que a vida é bela, e eu de olhos tão cerrados até acredito nela. e não no metro. cegos apressados para o trabalho, e as ordens que tu me berras não valem o meu ordenado. casas em Veneza, afogam-te a tristeza, tu és delicadeza entre o mal da realeza. nasci na casa errada, 7 de Março e neste bairro, onde a tua pele se arrasta em tudo aquilo que é errado. e demoramos na maldade e nela criamos vícios, vê a vida chegar a velha só com o ordenado mínimo. e as flores que acalmam dores, são pedras ou são lírios? tu leva-me para onde fores: as tuas quedas têm sítios. sereno que a vida é monstra e acalma-me para não ruir, os teus dedos tapam-me a boca para a alma não me fugir. barcos sobre o Sena, navegam em rios de pedra, 7 de Março cedo chega, leva as coisas que me restam.
3.
Lábios 03:21
sabemos a dor, sabemos o corpo, sabemos a cor um do outro. sabemos as mãos, sabemos que não tocam em nada se não ouro. nascemos do chão: Nara, Japão; palavras que fazem o choro. crescemos em vão, respira pulmão - falácias que cabem no sonho. sutura segredos, a cura dos dedos, das mãos, das bocas. a culpa dos medos, vês o que temos: a solidão das putas. o médio formato da vida onde tudo é mais belo, que nos faz esquecer a merda, o desespero, o nosso medo. ... e onde a noite é mais barulho, eu e ela e o futuro num red eye desde Guarulhos. as mãos não têm fim - só tocam no que é puro com a mesma audácia com que vão engolindo o escuro. a maldade - tu despe-a; na cidade com a neve e a vaidade, tu perde-a, em Belgrado, Sérvia. e o escuro longe lá vai - são cores de Wong Kar Wai. a volúpia aos poucos cai e tu és túlipas a mais. e loucos, ficamos perdidos. o Monstro Precisa de Amigos. aos poucos com os anos sozinhos, tornamo-nos em vidros. e talvez um hotel onde a pele exposta sob o cós na ponta de um império em guerra que nós somos sós. sabemos a dor, venenos do corpo, sabemos o sabor um do outro. fazemos as mãos e vemos que não tocam em nada se não ouro. nascemos do chão: Shimada, Japão; promessas que fazem o choro. morremos em vão, inspira pulmão - falácias que cabem no sonho. Demos do eu, cremos no céu, nas pernas, nas bocas. Vénus do fel, vemos no véu a solidão das putas. o médio formato da vida onde tudo soa eterno que nos faz esquecer a merda, falta o tempo, cresce o medo. ... e no interior em demasia, lábios maus que mal me guiam fazem e vendem distopias. animal-rainha, a boca faz mais que mentir, são os dias que tu crias aquilo que me obriga a partir. Veneza, Deusa? é sede ou seda? é treva ou caos? quão bela a presa? o que pede a queda? pedra ou paus? são beijos como o primeiro, os joelhos caem-me inteiros, o peito com tal arquejo, tal Artemis do desejo. ensina-me a ser eterno às custas das derrotas, perguntas e respostas, curvas das tuas costas. o caminho do teu dorso que percorro como se fosse vinho e eu com sede - trato o corpo como um poço. afina a palavra que é breve, quão fina camada de neve, definha o que a vida nos pede, é vinho o que a língua merece. e talvez um motel onde a pele exposta sob o cós na ponta de um império em guerra que nós somos sós.
4.
tu és a primeira pessoa: o começo de tudo o resto. entre as montanhas uma boca, entre nós um universo. quem suporta o meu rosto entre mãos belas em excesso, enquanto os dedos se entrelaçam e no peito bate um deserto? e depois do fim do mundo, depois do fim do sexo, da nudez que tu vês, de quem é a vez de ficar cego? canções e poemas sobre tudo e sobre nada, sobre as quedas, sobre as falhas, sobre o fundo e sobre a raiva. as nossas luas são privadas - como o chão que ela pisa, e neva no Rio Neva: grava a vida numa fita. as coisas que importam deveras? aquilo que as feras gritam! e no nada, nada fica: estrada de Benfica. o que a eternidade pode? ou a que nossa idade fode? e nós falamos sobre querer uma vida melhor. mas como se a rotina nos ensina a fracassar? a tentar ser imortais em 24h por dia, amor, não dá. corpos, ossos, facas - homens fortes falham. cigarros no meu bolso, coisas boas que nos faltam. os filmes imaginários, quadros que não existem, os amores temporários, os mundos que só tu crias. uma montanha, duas bocas, dois corpos com quatro braços, dez dedos em duas mãos, uma vida, cem cidades. o batimento certo. o sentimento? perto. cem passados, dez mulheres e um deserto. e os fumos da Lisnave no horizonte de uma Lisboa nada nossa que nos vai morrendo aos poucos. voamos para onde? Singapura? Roma? Londres? nós Deuses que têm sede, como o sangue de imperadores. e nós somos para sempre como o Ulisses de Joyce. perguntas "como amar"? e eu respondo como posso. na sombra dos animais, como te corre a solidão? como um homem que tudo tem, mas nada guarda nas mãos. nós estamos bem... ou talvez não.
5.
o meu pai nasceu numa ditadura, quantos braços a seguram? falsos passos que perduram, o tempo não tem cura, as pedras não se calam nem as feras nos aturam. a fome traz a merda; corre, cavalo de guerra. como perdoar o mal quando o corpo tudo lembra? posições temporárias de vidas tão precárias, vítimas da máquina, quão sádica esta pátria? nem as guerras nos separam, as mesmas mãos que rezam, matam. vingança quer sangue, nós e fotos de Ren Hang, a correr atrás do belo como tantos. na busca da rima pura que é escrita em Singapura, as luas da vida dura são filhas da ditadura, e nós filhos de minas, ruas, dos 90's que nos sangram, de relações falhadas mas de pais que nos amam. as flores e a falta delas, as cores que nos são belas. deste corpo leva a sorte, da janela nasce o norte, Diómede Menor: a mais bela parte da morte. porquê que o mundo é tão cru para mim? porquê que o tempo é tão injusto assim? estamos só à espera de morrer, enquanto só queremos viver. isto é um álbum para o eterno sobre a merda que vivemos, sobre a terra onde morremos, sobre o tempo que se arrasta no passar dos anos, enquanto a pele se gasta e enterramos quem amamos. os dias que contamos à espera do fim do mês... isso é medo de morrer ou de viver de vez? isto é um disco sobre o peito e sobre o seu declínio, sem monopólios, promotoras, managers ou patrocínios. gravado por amigos - só assim me faz sentido. quão só foi o caminho? e não são canções de amor, mas sobre o amor, sobre os rasgos e os estragos que no corpo a dor deixa para sempre - e nós choramos corpos mortos, todos somos outros, todos temos cortes. Na cidade dos Corvos, Cidade sem Nome, em cena os finais todos que houve no meu corpo.

about

Singapura é o primeiro acto do disco de estreia de João Tamura e o primeiro longa duração a ser editado pela Discos Distopia.

"isto é um disco sobre o peito e sobre o seu declínio,
sem monopólios, promotoras, managers ou patrocínios.
gravado por amigos - só assim me faz sentido.
quão só foi o caminho?
e não são canções de amor, mas sobre o amor,
sobre os rasgos e os estragos que no corpo a dor
deixa para sempre..."

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released October 2, 2019

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about

João Tamura Lisbon, Portugal

João Tamura é músico, poeta e fotógrafo. Nascido em Lisboa, nos anos 90, começou a fazer música cedo, aos 14 anos. Música, essa, que dá vida e roupagem aos poemas que escreve.

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