singelo corpo de água onde começa o eterno,
és onde nasce o universo ou regressa o inverno.
como a música dança? e o que vem depois do belo?
com a atenção de quem se ama e de quem se despe do céu…
as milhas do teu dorso, as ilhas são as lágrimas,
e ao lado do teu rosto todo o peito tem galáxias.
vão-se as falácias, despimo-nos a pele,
ao som de canções do Manel ou dos grupos dele.
e dantes duas ilhas - verte beijos, boca, dor,
à procura do amor na tela do computador.
as flores de Afonso Cruz, as dores dos corpos nus,
a solidão é um baile, a pele que toco em braile.
aquilo que não importa: tu enterra em nós.
enquanto as flores do peito brotam: tudo é terra em nós.
e como os nossos pais: entre a rotina, o tempo e o medo.
isto é dos homens ou dos animais... ou são o mesmo?
... rebelde peito treme tanto,
cego segue o mal humano.
oceânica a cólera de sermos tão em vão,
na ponta dos dedos onde bate o coração.
e somos vivos pelo pó dos livros e
nós sorrimos até um dizer: “desisto, pára!”
lábios finos, como Nilos, infinitos, sim…
que pousas sobre o caos onde eu existo, Sara.
braços como um deus, falsos como os meus,
baços como véus, altos como céus,
pássaros nossos, nós com passos nervosos…
mãos, veias, ossos: é o tocar-te e que me toques.
nos dias de hoje: tão sem corpo, tão sem cheiro,
eles fazem música como um banqueiro faz dinheiro.
e nós quando velhinhos com reformas da miséria,
a fazer as coisas belas que o mundo enterra.
João Tamura é músico, poeta e fotógrafo. Nascido em Lisboa, nos anos 90, começou a fazer música cedo, aos 14 anos. Música, essa, que dá vida e roupagem aos poemas que escreve.
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