escrito e interpretado por João Tamura;
produzido por txmmy;
guitarra e baixo: Miguel Ropio;
co-produção, gravação, mistura e masterização: L1NK @ Linkage Recording Facility.
sabemos a dor, sabemos o corpo, sabemos a cor um do outro.
sabemos as mãos, sabemos que não tocam em nada se não ouro.
nascemos do chão: Nara, Japão; palavras que fazem o choro.
crescemos em vão, respira pulmão - falácias que cabem no sonho.
sutura segredos, a cura dos dedos, das mãos, das bocas.
a culpa dos medos, vês o que temos: a solidão das putas.
o médio formato da vida onde tudo é mais belo,
que nos faz esquecer a merda, o desespero, o nosso medo.
... e onde a noite é mais barulho,
eu e ela e o futuro num red eye desde Guarulhos.
as mãos não têm fim - só tocam no que é puro
com a mesma audácia com que vão engolindo o escuro.
a maldade - tu despe-a; na cidade com a neve
e a vaidade, tu perde-a, em Belgrado, Sérvia.
e o escuro longe lá vai - são cores de Wong Kar Wai.
a volúpia aos poucos cai e tu és túlipas a mais.
e loucos, ficamos perdidos. o Monstro Precisa de Amigos.
aos poucos com os anos sozinhos, tornamo-nos em vidros.
e talvez um hotel onde a pele exposta sob o cós
na ponta de um império em guerra que nós somos sós.
sabemos a dor, venenos do corpo, sabemos o sabor um do outro.
fazemos as mãos e vemos que não tocam em nada se não ouro.
nascemos do chão: Shimada, Japão; promessas que fazem o choro.
morremos em vão, inspira pulmão - falácias que cabem no sonho.
Demos do eu, cremos no céu, nas pernas, nas bocas.
Vénus do fel, vemos no véu a solidão das putas.
o médio formato da vida onde tudo soa eterno
que nos faz esquecer a merda, falta o tempo, cresce o medo.
... e no interior em demasia,
lábios maus que mal me guiam fazem e vendem distopias.
animal-rainha, a boca faz mais que mentir,
são os dias que tu crias aquilo que me obriga a partir.
Veneza, Deusa? é sede ou seda? é treva ou caos?
quão bela a presa? o que pede a queda? pedra ou paus?
são beijos como o primeiro, os joelhos caem-me inteiros,
o peito com tal arquejo, tal Artemis do desejo.
ensina-me a ser eterno às custas das derrotas,
perguntas e respostas, curvas das tuas costas.
o caminho do teu dorso que percorro como se fosse
vinho e eu com sede - trato o corpo como um poço.
afina a palavra que é breve, quão fina camada de neve,
definha o que a vida nos pede, é vinho o que a língua merece.
e talvez um motel onde a pele exposta sob o cós
na ponta de um império em guerra que nós somos sós.
João Tamura é músico, poeta e fotógrafo. Nascido em Lisboa, nos anos 90, começou a fazer música cedo, aos 14 anos. Música, essa, que dá vida e roupagem aos poemas que escreve.